Quem sou

Vitória, ES, Brazil
Sou servidor público federal, formado em Administração Pública pela Unisul. Atualmente, estudo teologia na Faculdade Unida de Vitória e frequento uma comunidade da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Vivo todas as ambiguidades possíveis e, a partir delas, confio na imensa graça de Deus.

Saturday, July 2, 2011

Carta Aberta à Presidência da IECLB

Senhor Pastor Presidente da IECLB, Nestor Paulo Friedrich,

“Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem obtivemos também nosso acesso pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus”.

Com essas palavras de saudação e motivação escritas pelo apóstolo Paulo, escrevo-lhe esta carta em reação à Carta Pastoral da Presidência sobre Homoafetividade, emitida, em 24 de junho de 2011.

Como foi bem exposto, a IECLB encontra-se dividida, e essa polarização de posições em nada tem a contribuir para o diálogo e a formação de consenso dentro da nossa denominação. Também é um assunto que não se pode impor aos diversos grupos da igreja, o que poderia gerar uma crise e a conseqüente cisão. Contudo, desde a primeira carta escrita pela presidência da IECLB no ano de 1999, passaram-se doze anos sem que o diálogo tenha avançado, e a igreja permanece polarizada entre luteranos conservadores e luteranos progressistas. A manutenção dessa posição mantém as estruturas de desigualdade e priorizam a posição mais conservadora, afinal de contas, uma vez que as pessoas homossexuais não podem ser ministros e ministras da igreja, nem receber uma bênção matrimonial, pela simples razão de não haver consenso, a igreja assume um caráter conservador de exclusão.

Como bem disse o filósofo Michel Foucault: “O que não é regulado para a geração ou por ela transfigurado não possui eira, nem beira, nem lei. Nem verbo também. É ao mesmo tempo expulso, negado e reduzido ao silêncio. Não somente não existe, como não deve existir e à menor manifestação fá-lo-ão desaparecer – sejam atos ou palavras”. E é exatamente isso que tem acontecido, a homossexualidade não é tema para discussão e, quando vem à discussão, é primeiramente trazida pelos grupos mais conservadores, que a condenam. Enquanto isso, pessoas homossexuais continuam no anonimato, com medo de se exporem e de se expressaram (com raras expressões). Se elas não existem e não falam por elas mesmas, o diálogo nunca se concretizará.

Como a atual carta pastoral lembrou acerca de outra emitida em 2009: “não há no âmbito de igrejas evangélicas protestantes um magistério que tenha a prerrogativa de estabelecer normas éticas que deveriam ser seguidas por todos os fiéis. Nem poderia haver. Na tradição da Reforma protestante essas igrejas não (re)conhecem uma instância eclesiástica autoritativa, muito menos infalível, em questões morais, mas seus pastores e pastoras têm a responsabilidade de, baseados na Bíblia e seus valores evangélicos, orientar as pessoas implicadas ao discernimento ético, fortalecendo-as a tomarem, simultaneamente em liberdade e responsabilidade, suas próprias decisões diante de Deus”. Parece-me que, ao manter-se neutra na discussão, a igreja está, na verdade, exercendo magistério e autoridade, algo que não deveria ser exercida por igreja evangélica.

Talvez uma alternativa para o impasse em que a igreja se encontra é conviver com a falta de acordo, concedendo autonomia às paróquias e a seus ministros e ministras de decidirem por si mesmos acerca desses assuntos. É no ministério compartilhado entre ministros ordenados e presbíteros que se pode decidir o futuro da igreja. A partir do momento em que as comunidades podem decidir por si mesmas, pessoas homossexuais poderão se expressar, receber algum tipo de bênção para suas uniões ou até mesmo exercer o ministério ordenado. Tal qual aconteceu com a ordenação de mulheres, haverá comunidades que vão apoiar e outras que vão execrar esse tipo de atitude, mas ao menos haverá mais visibilidade de que tais pessoas existem na nossa igreja e precisam ser ouvidas.

Por fim, minha oração é para que Deus possa conceder sabedoria e discernimento para todas as pessoas envolvidas, em especial para as lideranças de nossa IECLB. Minha oração também está voltada àquelas pessoas que são vítimas do anonimato e do ostracismo a que são forçadas a encarar. Que o Espírito de Deus sopre sobre nossa igreja e traga conversão de corações.

Paz e bem!
Vitória, 2 de julho de 2011.

Filipe Fialho Alves

4 comments:

  1. É assim mesmo que se faz, Filipe, lutando com as armas de que dispomos - as quais, aliás, são as mais eficientes: a língua e a pena. Nas palavras de Paulo: "Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo" (2Co 10.4-5). Que o Senhor da Igreja nos ajude nessa tarefa de colaborar com seu santo Espírito na conversão dos corações empedernidos. Abração! Handall.

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  2. Amigos y amigas: Mientras muchas iglesias de la comunidad luterana en América Latina acompañan la promoción de derechos de las personas de la comunidad gay, la IECLB va quedando varios siglos atrasada. Las dos iglesias luteranas en Argentina, la IELU y la IERP, han apoyado publicamente el proyecto de ley del matrimonio igualitario (entre personas del mismo sexo). Ambas iglesias, la Iglesia Evangélica Luterana Unida y la Iglesia Evangélica del Rio de la Plata, esta última con una historia similar a la IECLB, han ordenado recientemente al ministerio de la Palabra y los Sacramentos a personas abiertamente de orientación homosexual. El Obispo Presidente de la Iglesia Evangelica Luterana en Chile, Pastor Luís Alvarez Figueroa ha hecho publico su apoyo a la causa de los derechos de las personas gay en la última expresión de la Gay Parade de Santiago de Chile. La Iglesia Luterana en Costa Rica tiene desde hace años lo que se llama la Misa de la Inclusividad y están pensando en promover que una persona de identidad transgénero estudie teología y considerar su ordenación. América Latina se mueve, cambia, se abre a nuevas realidades y las iglesias tienen que reflejar esos cambios. Lamentalbmente la carta de la IECLB del 2011 es un absurdo. Nadie publica una carta para decir que sigue pensando igual que hace once años. Pastor Lisandro Orlov. Iglesia Evangélica Luterana Unida en Argentina y Uruguay y coordinador de la Pastoral Ecuménica VIH-SIDA

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  3. Por que os pastores estudam teologia, se na hora de decidirem algo teológico, não tem capacidade para tal?
    Por que as igrejas tratam a condição pessoal de indivíduos em detrimento de outros (hétero x homossexual) se a questão é espiritual e doutrinária? Quando os espanhóis vieram para o Brasil e encontraram os índios (nativos) diziam que eles eram como animais e não tinham almas. Isto é uma aberração, uma afronta a Deus! Mas dizer que o "ato" promiscuo de uma pessoa é racismo, significa tão somente que a igreja prefere estar de bem com uma sociedade imoral e corrompida do que ficar com a Palavra de Deus que "dita" o que é certo em contrário ao que é errado. A não ser que não exista mais certo e errado!
    Uma coisa é espancar, ofender e odiar alguém que é homossexual, outra coisa é eu, como cristão aceitar a prática como algo normal. Se fosse normal o "ato" homossexual, não estaria condenado na Palavra de Deus em vários textos espalhados pela Bíblia, inclusive, para aqueles que são movidos apenas pelo Novo Testamento, em Romanos 1:18 a 32, como já foi comentado acima.
    O cristianismo de hoje é muito fraco, teológica e espiritualmente. Teológica, já expliquei acima por que. Espiritualmente, porque não se buscar saber a vontade de Deus sobre os assuntos e sim, vão na onda do povo e da mídia.
    Que fracasso, queira Deus que Jesus volte logo, caso contrário..."Haverá fé na terra?"

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